poema;
quarta-feira, 8 de abril de 2015 | Comentários
"Que é escuro e frio mas também bonito, porque é iluminado pela beleza do que aconteceu há minutos atrás"


Por vezes achei que estava perdendo a lucidez -se é que já não o fiz-, gostaria de te dizer que "ta tudo em, tudo no lugar mesmo faltando você como peça principal, que ta tudo bem mãe, ta doendo, mas vai passar".
Eu queria, mas não consigo.
Não consigo enxergar além dessa escuridão; os feriados estão começando, aqueles todos que passávamos juntas; a rotina, que compartilhávamos, vai me matando aos poucos, vai arrancando de mim, pedaços; não sei por quanto tempo irei aguentar isso.
Esse sufoco é tão letal; me falta o ar, nos dias ruins.
Nesses dias ruins, que o choro fica trancado na garganta, meu corpo dói por inteiro, como resposta -involuntária- à não projeção de dor que tento transparecer.
Tento bloquear o que aconteceu, fujo do assunto, fujo das memórias. Mas como fugir de algo pertencente a mim por tanto tempo? Como fugir do que foi minha vida?
Gostaria de fugir, correr tanto até que minhas pernas não aguentassem mais, e no fim do fim do fim do fim do caminho encontrar você; me esperando, com os braços abertos e o sorriso mais lindo no rosto.
Olha que clichê, mãe.
Eu virei um clichê, dramático, romântico, triste.
Será que você me cuida todas as noites?
Será que você me escuta, todas as noites? Escuta minhas orações, escuta sobre o meu dia?
Hoje fazem trinta dias, e a minha cabeça ainda bloqueia o que aconteceu; as pessoas nas ruas, as multidões, as vozes, o barulho dos carros, o barulho da chuva, do vento.
Como é possível que cada coisa que exista nesse mundo me faça lembrar de ti?
Não há para onde fugir, não há refúgio; se minha válvula de teletransporte para qualquer dimensão tão longe dessa, era tu, quem vai me segurar agora?
Digo, quem vai me segurar todos os dias no casulto que fora projetado em teu amor?
Acredito num mundo bom, em que coisas boas para pessoas boas aconteçam; acredito que um dia, num futuro distante -pois agora não conseguiria enxergar tua perda como algo que eu vá me acostumar- talvez sim eu consiga.
Vou lutar, nesses todos dias que se arrastam desde sua perda, vou lutar para não perder o controle, para continuar tendo fé.
Sei que te devo isso, e para algumas pessoas também.
Talvez, mãe, eu precise achar uma válvula de escape; não como tu foste, pois talvez -novamente- eu precise sentir toda essa dor que vai dilacerando por dentro cada pedacinho meu.
Diferente das outras vezes, essa dor é só minha, e é uma dor que precisa ser sentida com toda a sua intensidade, pois é minha, e tua.
Te escrevo essas palavras, já que não conseguiria me expressar sem chorar sobre isso tudo.
Te escrevo com meu coração, e com todo o amor que houver nessa vida.
Te escrevo com minha admiração, e te amo assim.



Quem sou eu?

Enquanto achar necessário o uso das palavras borradas no papel, enquanto achar inevitável o fazer... enquanto tudo isso acontecer, sempre terei o que escrever, mesmo que para isso, eu não tenha nada em mente.
Visualizar meu perfil completo

Arquivo