'um estranho no ninho'
domingo, 22 de novembro de 2009 | Comentários
Trancafiado nesta sala, com apenas uma grande janela e uma porta de metal, grosso, quase impossível de se quebrar; nãotenho muito o que fazer a não ser escutar. E, esporadicamente, escrever, quando me é dado caneta e papél.
Fico escutando o barulho insuportável dos besouros se debatendo no teto, até chegarem, na tão desejada, janela. Só então, esses adoráveis idiotas, caem sobre o chão, me dando a alegria de esmagá-los.
Descobri que ao fazer isso, eles exalam um cheiro avisando os outros. Os quais fazem o mesmo ritual, até cairem no chão e vocês-sabem-o-final.
Há tardes como a de hoje, que o sol desaparece atrás das nuvens carregada, que alguém passa sob a porta uma folha de papel. Talvez saiba que eu necessite de alguma distração, além dos besouros.
Isso tem acontecido uma vez por semana; sempre que chove. Agosto, chuva, calor e, por fim, o frio.
Daqui consigo enxergar um prédio à minha frente, gosto de escrever o que vejo lá; Outras vezes, me perco em coisas que invento.
Escuto também um blues vindo de uma das janelas que avisto. Billie Holiday, se não me engano.
As vezes, quando não tenho o que escrever, penso o porque de eu estar aqui. As paredes estofadas, essa roupa branca... Tento lembrar do meu passado. Porém, talvez pela quantidade de remédios, não consigo.
Uma mancha borrada é o que eu vejo quando olho para trás.
Esses dias, quando escutei o som do Billie, tive um lampejo; rostos, cheiros, flores... E um zumbido.
Olho para o teto; meu companheiro chegou.
Deixo meus pensamentos de lado e vou esmagar os besouros, como de costume.


Quem sou eu?

Enquanto achar necessário o uso das palavras borradas no papel, enquanto achar inevitável o fazer... enquanto tudo isso acontecer, sempre terei o que escrever, mesmo que para isso, eu não tenha nada em mente.
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