O silêncio da neve
quinta-feira, 10 de setembro de 2009 | Comentários
Toda vez que entro em casa, mais especificamente naquele quarto, sinto seu cheiro.
Um cheiro doce, agradável, tão gostoso.
Toda vez que assisto àquele filme... aquele que tu tanto gostava, sabe?
Como-que-é-mesmo; aah sim, Grande Hotel. Greta, sempre diva.
Gostava tanto de olhá-lo contigo.
Agora, só tenho uma pessoa aqui comigo, neste casarão... nos damos bem, não conversamos sobre nossas vidas, mais sobre filmes. Antigos, preferencialmente, franceses -pra ser mais específica. Aqueles que chamam de 'pornô', sem saberem que a arte francesa é sensual, naturalmente.
Voltando à minha nova amiga... rimos bastante, ela sempre encena algumas partes do 'juventude transviada' fazendo aquela voz de galã do James Dean.
Eu a acompanho, imitando a Judy.
Agora que faz demasiado frio, apesar de não nevar, sempre me debruço na janela para olhar os flocos. Meus flocos. Talvez insanidade, mas, arrisco dizer que, muitas vezes, os escutei; quando delicadamente seus resquícios encontravam-se com o chão.
Ela nunca reclama de mim, só da fumaça do cigarro... dizendo que ofusca minha aura, tampouco meu rosto. Quem sabe seja por isso que nunca a vejo, nunca vejo seu rosto, é como se tivessem passado uma borracha, ao redor do rosto.
Esses dias, resolvi apagar o cigarro, me aproximei, vagarosamente, do seu corpo. Um cheiro familiar, um jeito conhecido, hesitei um pouco. Provavelmente com medo de descobrir quem era. Com medo de descobrir que eu, realmente, estava sozinha lá.
Numa overdose de filmes antigos, bebidas, cigarros, numa overdose de nostalgia, dos nossos tempos juntos.
Então, agora posso vê-la; é estranho, parece me acompanhar a cada movimento. Chego mais perto, com aquele mesmo medo.
Porém agora, sei do que o tinha.
Medo, medo, medo. Medo de descobrir que o rosto que eu vira atrás da fumaça do cigarro, era meu.
Uma imagem perfeitamente refletida. Num espelho sujo.


Quem sou eu?

Enquanto achar necessário o uso das palavras borradas no papel, enquanto achar inevitável o fazer... enquanto tudo isso acontecer, sempre terei o que escrever, mesmo que para isso, eu não tenha nada em mente.
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