Clichê
terça-feira, 18 de novembro de 2008 | Comentários
Olhei para o relógio, impaciente, já era mais de meia noite e, ele ainda não chegara. E provavelmente, não chegaria... como das outras várias vezes que o convidei.
Era o segundo maço de cigarro que estava fumando, contando as horas, pensando se seria certo ligar e perguntar o por que do atraso.
Peguei o telefone, disquei o número, desliguei, não queria parecer chata, na verdade não queria que ele notasse que eu realmente estava afim de algo mais sério do que aquelas ficadas no fim de alguma festa.
Nunca gostei de namoro, compromisso com alguém.., sempre prezei pela minha liberdade, poder beber, me acabar numa festa qualquer e não ter que dar satisfação para alguém. Não que isso tenha mudado, apenas quero um companheiro para se acabar comigo, ir até o chão fumando marlboro, com um copo de martini, assim, bem blasé.
Rir depois, da noite anterior, compartilhar isso com alguém.
Talvez fosse carência, nunca pensei assim, e agora ter alguém por perto parece tão reconfortante.
Olhei mais uma vez o relógio, seu tic tac parecia paranóico e perseguidor. Já estava ficando aflita.
Tomei mais um gole de vodka, mais um gole de coragem antes de telefonar. Então, alguém do outro lado atende, com a voz rouca e perdida:
-Alô?
Oi... sou eu, você não vai vir?
-Ahh, desculpa... eu perdi a hora completamente, fiquei bebendo com uns amigos, acabei dormindo. Mas que horas são?
Quase duas.
-Vou me arrumar, daqui uns 20 minutos eu chego ai.
Tá bom...
Ouço o ruído que faz ao desligar o telefone e volto à sala, fico parada do lado da janela. A vista do 7º é encantadora, ao mesmo tempo perturbadora, claro.
Acendo outro cigarro, sei que ele provavelmente não virá, como das outras vezes.. E esses 20 minutinhos se tornam horas, dias, semanas.
Dessa vez, não me importo, quem sabe seja melhor a liberdade do que a espera por alguém que nunca virá.
Uma hora depois, o interfone toca; não posso deixar de dizer que um friozinho percorreu minha barriga.
Quem é?
-Pizza quatro queijos, é aqui senhora?
Ah, é sim, pode subir...
Ao abrir a porta, surpresa vejo que aqueles 20 minutinhos hoje, levaram apenas uma hora de atraso.


Quem sou eu?

Enquanto achar necessário o uso das palavras borradas no papel, enquanto achar inevitável o fazer... enquanto tudo isso acontecer, sempre terei o que escrever, mesmo que para isso, eu não tenha nada em mente.
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